Segundo o TSE, apenas 21,6% dos jovens menores de 18 anos tiraram o título de eleitor
Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada a “Constituição Cidadã” que assegura as eleições diretas até hoje, e a participação de cidadãos acima de 18 anos, através do voto obrigatório e secreto. Criada pelo deputado Hermes Zanetti (PMDB-RS), a emenda que garante o direito ao voto facultativo, para os menores de 18 anos, foi aprovada por 355 votos, em 2 de março de 1988, pela Assembleia Nacional Constituinte.
A vitória foi comemorada por centenas de jovens que acompanharam a sessão e pelos movimentos estudantis da época, como UNE e UBES, que apoiaram a campanha “Se liga, 16!”, que convidava os jovens a participar das eleições de 89.
Em 2018, 30 anos após essa conquista histórica, o desempenho desta classe eleitoral foi baixo nas urnas. Apenas um em cada cinco jovens estavam aptos a votar. O jovem Rafael Pinheiro Oliveira, 17 anos, fez questão de participar deste momento importante para o país. “Acredito que meu voto faz parte da construção de um país melhor e o poder não pode ficar nas mãos de qualquer um. Tenho que escolher quem me representa!”, afirma.
Questionado sobre a importância da participação de sua faixa etária nas urnas, Rafael acha que faz muita diferença.
“Acredito que o jovem tem mente aberta, tem ampla visão de mundo e sabe o que quer. Não somos desinteressados, temos que lutar por nossos ideais.” - Rafael Pinheiro Oliveira
Já para Beatriz Francisca de Morais, 16 anos, que optou por não votar esse ano, as coisas são diferentes. “Muitos jovens votam sem pensar no futuro e isso não ajuda em nada. Eu realmente acho que faltam votos conscientes e só o meu, não faria diferença alguma”, explica a jovem.
Conversamos com o sociólogo, cientista social e professor universitário Bruno Casalotti, para entender melhor este cenário. Para ele, um dos fatores que explica esse alto índice de abstenções é a falta de proximidade de ideais dos candidatos com os jovens. “Me parece meio natural que eles não se encaminhem para as urnas, por uma questão muito simples: a gente não teve nenhum candidato [presidencial] que reúna em torno de si as condições de representar essa juventude”, comentou.
Outro ponto destacado por ele foi a ausência de diálogo com a classe. “Por incrível que pareça, eu entendo que o Ciro Gomes conseguiu fazer isso. Porque ele se pré-dispôs a discutir com a juventude, de um jeito que os outros candidatos não fizeram. O Ciro se preocupou bastante em fazer esse debate público com os jovens, ele foi às universidades. Choveram vídeos na internet, dele nas universidades, discutindo com os jovens. Então, ele foi o que mais se aproximou, não que tenha efetivamente concretizado isso de maneira integral”, acrescenta.
Os “Bolsominions”
O instituto Datafolha trouxe no dia 2 de outubro, um perfil dos eleitores de cada presidenciável. Nesta data, Jair Bolsonaro, posteriormente eleito, possuía 32% das intenções de votos. Destes, 39% de seu eleitorado pertencia a classe de jovens com idades entre 16 e 34 anos. Para Casalotti, o fenômeno do Bolsonarismo é algo que precisa ser estudado, posterior ao período eleitoral. Mas que alguns fatores podem ter influenciado esses jovens a simpatizarem com um candidato que represente ideias opostas aos últimos ocupantes do cargo.
“Uma coisa que se sabe, é que existe um apelo pelo novo. É uma geração que cresceu na época Lulista, teve sua infância demarcada pelos governos do PT. Existe uma tendência, um condicionamento neste sentido, de se escolher algo que difira do estado vivido até então. O Bolsonaro se apresenta como novidade”, explica.
Outro elemento a ser analisado é a presença do presidente eleito nas redes sociais. Sua campanha foi marcada por lives no Facebook e até hoje, o twitter é utilizado como um dos principais canais oficiais de comunicação do presidente com os eleitores.
“Foi mais importante fazer campanha pelas redes sociais, nesta eleição, do que pela televisão. Pela primeira vez na história do Brasil, na história da campanha eleitoral.” - Bruno Casalotti
Nas redes sociais, o termo “Bolsominion” ficou conhecido ao ser usado para se referir aos eleitores jovens do capitão da reserva e faz referência aos ajudantes amarelos do vilão Gru na sequência de filmes infantis “Meu Malvado Favorito”.
Cibereleitores
As eleições de 2018 tiveram protagonismo no cenário digital, principalmente, nas redes sociais. Numa pesquisa feita pela American Directories Operations & Computerized Systems (Amdocs), em 2016, com 4.250 pessoas de 15 a 18 anos em dez países (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Rússia, Índia, Cingapura, Filipinas, México e Brasil) mostrou que os jovens brasileiros são os mais dependentes das redes sociais e representam a maior parte dos usuários do Facebook.
Um ponto a se destacar nas discussões, dentro do Facebook, são os memes. Eles estão presentes também nas discussões políticas. O publicitário e pesquisador Renato Georgette Frigo é autor da dissertação de mestrado (FCA-Unicamp) intitulada “Política, Memes e o Facebook no Brasil: em busca da ciberdemocracia”. Nela, Frigo acompanhou a evolução dos memes publicados, entre 2014 e 2016, nas páginas dos partidos políticos e movimentos sociais.
Perguntamos a Renato qual foi o diferencial trazido através dos memes para as discussões políticas atuais. “A principal mudança foi que essa nova discussão política do Facebook evoluiu para uma argumentação visual e não mais textual. Então, agora eu posso usar um meme para expressar meu posicionamento político e a rapidez de divulgação do meme é muito grande, então podemos dizer que os memes políticos democratizaram a política brasileira para um novo patamar”, afirma.
Mesmo com a forte presença dos adolescentes brasileiros nas redes sociais, o aumento destas discussões na internet, ainda sim 2018 teve o índice mais baixo de participação desta classe desde 2002. Para Renato, não é possível fazer um recorte da presença destes jovens nestas discussões, “o Facebook não permite uma apuração mais focada no usuário e eu precisaria entrevistar esses jovens para fazer a pesquisa mais focada neles. Então, resolvi focar no objeto do meme”. Já Casalotti, afirmou que a participação política na sociedade não se faz apenas a partir das urnas: “No limite, a participação da sociedade tá mudando de caráter. Se eu fosse traçar o perfil desse jovem eleitor, eu diria que ele é um jovem que participa muito das discussões políticas na sociedade, só que isso não se materializa necessariamente em voto. Mas, sim, em outro tipo de verbalização das suas vontades políticas”.
Publicidade nas redes
É possível afirmar também que os memes têm funcionado da mesma forma que a publicidade tradicional e influenciado eleitores.
“[os memes] Carregam elementos visuais, textuais e imagens que denotam valores para seus leitores. Foi possível detectar que memes atraem posicionamento político, pois carregam esses valores e esses discursos políticos que passam de pessoa para pessoa, em uma velocidade jamais vista em outras eleições anteriores.” - Renato Georgette Frigo
Um fato também observado por ele, durante o estudo, é que os memes referentes à direita política foram os que se destacaram mais. “O fator determinante para esse destaque da direita é: o acesso aos meios digitais e a tradição da esquerda em levar o povo para as ruas. Nesse sentido, foi possível perceber que os memes de esquerda chamam o público para luta nas ruas, para o protesto público e até mesmo para lutar contra aqueles que vão contra seus ideais. Enquanto os memes de direita se destacam pelo ataque pessoal e pelo posicionamento sobre as notícias da mídia”, finaliza.
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