Por: Jackline Venceslau
Mulheres conquistam espaço no esporte de contato, mas ainda precisam lidar com preconceitos
O protagonismo feminino vem quebrando barreiras e invadindo espaços e profissões antes vistos como de exclusividade masculina. Com muitas reivindicações e esforços, as mulheres têm conquistado voz e direitos, mas ainda são passos curtos com um longo espaço a percorrer.
No esporte, isso não tem sido diferente, há uma grande resistência a presença da mulher em muitas modalidades e toda uma cultura que não incentiva a participação feminina nestas atividades. Segundo um levantamento feito pelo IBGE em parceria com Ministério do Esporte, em 2015, 68% das mulheres brasileiras, com mais de 15 anos, nunca praticaram esportes.
Entre essas modalidades, o esporte de contato sempre foi visto como uma área destinada apenas a homens e, há pouco tempo atrás, era difícil encontrar academias que ofertassem turmas femininas ou competições que possuíssem categorias que aceitassem mulheres. Com o aumento da visibilidade das Mixed Martial Arts, através da liga Ultimate Fighting Championship (UFC), a partir da década de 2000, o presidente da liga, Dana White, foi questionado por jornalistas em 2011, se algum dia mulheres poderiam ser participantes das competições e a resposta foi: “nunca”. Porém, cinco anos depois, as mulheres ganharam espaço nos cards e estão até hoje presentes em quatro categorias de peso. O UFC revelou atletas femininas que têm grande destaque na competição.
Neste cenário, surgiu a Mulheres que Lutam, uma página no Facebook destinada a apoiar e incentivar a participação de mulheres em todas as modalidades dos esportes de contato. As fundadoras são as irmãs Andryelli e Larissa da Silva, de 26 e 21 anos, respectivamente. Na época, 2011, elas eram iniciantes na prática do esporte e buscavam nas redes, espaços onde pudessem encontrar inspirações e outras mulheres praticantes. Mas, não houve sucesso na busca. Insatisfeitas com o resultado da pesquisa decidiram criar uma página que pudesse conectar essas mulheres e que também servisse de inspiração para muitas outras.
Preconceito
Outra atuação da página é o trabalho para a diminuição do preconceito e assédio dentro da prática esportiva. “Infelizmente a mulher ainda é muito sexualizada e é o que a gente quer acabar, ou pelo menos, tentar diminuir, para que ela não se sinta pressionada ou travada de fazer qualquer esporte de contato”, explica Andryelli.
Na página, foi feita uma enquete com as seguidoras, perguntando qual a frase mais escutada por elas. A vencedora foi: “Isso é coisa de homem”. Andryelli, que hoje é personal fight e atleta de Muay Thai, confirma esse tipo de recepção das pessoas próximas: “Eu escutei muito, no começo, de familiares e amigos que isso era coisa de macho, coisa de homem”.
O Projeto
Com o passar dos anos, a página se expandiu e se tornou um projeto, que conta com o patrocínio e investimento de empresas do ramo. Hoje, são promovidas aulas gratuitas de defesa pessoal em parques e trabalhos sociais. Dois projetos que já estão prontos para entrar em ação e serão realizados no Instituto Curumim, em São Paulo, oferecerão aulas gratuitas de muay thai para crianças carentes, moradoras do lar temporário e também defesa pessoal para mulheres que foram vítimas de abuso.
A página ainda mantida no Facebook conta com mais de 15 mil curtidas. Lá, são publicadas informações sobre as atividades realizadas, promovem sorteios, dão dicas de treino e interagem com as seguidoras através dos posts.
Inspiração
O projeto, que inspira muitas mulheres, surgiu de uma admiração antiga: a multicampeã Ivani Ferreira. Ela foi o estímulo para que as irmãs Silva entrassem para o esporte. Hoje, a campeã mundial é uma das apoiadoras do projeto: “Fico muito contente por poder ajudar o projeto Mulheres que Lutam. A intenção é impulsionar e agregar todas as mulheres na prática de alguma modalidade”, afirmou Ivani.
No vídeo abaixo, Andryelli contou, especialmente para a No Pódio, mais detalhes do projeto.
*Texto produzido para a revista acadêmica esportiva No Pódio
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