por Jackline Venceslau e Sara Nayara
Descobertas de um DNA cheio de sucesso e feminilidade
foto: Jackline Venceslau
Rosa Maria Tavares Andrade: mãe, filha, esposa, bióloga, bioapresentadora, escritora, doutora e professora. Multifacetas de uma grande mulher. É quase impossível se aproximar e não ser contagiado pela alegria e o alto astral que exalam do DNA de Rosa.
Paulista, criada pela mãe e a madrinha (duas mulheres, uma negra e outra branca, respectivamente). A mãe era governanta da casa da avó da madrinha. Rosa teve uma vida confortável, acompanhada de muitas viagens e aprendizado. Sua madrinha sempre fez questão de mostra-la como era o mundo e onde exatamente se encaixavam. Nem tão ricas como a família da madrinha, nem tão humildes quanto a família da mãe.
Maria passou toda a vida escolar na Escola Normal Caetano de Campos (atualmente, o prédio abriga a Secretaria da Educação do Estado - SEE), onde foi durante por muito tempo a única garota negra. Somente no ensino médio, outra menina negra foi matriculada em sua escola: Jussara. Nesse colégio, Rosa cresceu, jogou vôlei, deu e frequentou inúmeras festas e tem suas melhores lembranças da infância.
Foi também na adolescência que teve contato com os bailes black, onde pela primeira vez se identificou com pessoas de mesma descendência. Desde cedo, se viu engajada em movimentos sociais, principalmente na área étnica-racial.
PRECONCEITO
Apesar de suas enormes conquistas ao longo da vida, Rosa desde muito cedo passou por diversas situações de racismo. Como quando ainda estava no primeiro ano do ensino fundamental, sua professora convocou a mãe e disse que a menina havia mentido em uma redação no qual contava sobre o seu natal. O texto relatava suas preferências sobre caviar e talheres de prata que havia utilizado na casa de uma das irmãs da madrinha. A professora considerava impossível aquela aluna ter contato com esse tipo de alimento e utensílios caros característicos de pessoas de alto poder aquisitivo, houve a necessidade de a madrinha, que trabalhava na SEE, intervir. No ensino médio, ela e Jussara não foram convidadas para uma festa por serem negras, o que causou um grande transtorno mediante os colegas e novamente a intervenção de sua dinda. Ser filha única lhe dava privilégios gostosos de serem recordados.
PROFISSIONAL
Bióloga, Rosa Maria decidiu sua área de atuação ainda na quinta série do ensino fundamental. Sempre buscou por algo que abrangesse interação com pessoas e estabilidade de termos e estudos. Com formações pela USP (Universidade de São Paulo) e UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), Rosa tem bases que norteiam todos os trabalhos de sua vida: "cor, gente e genética: DNA!".
Nunca foi um objetivo em sua carreira profissional ser professora. Em sua graduação, a jovem pretendia ingressar na indústria alimentícia, onde conseguiu bons estágios, porém a estabilidade veio no segmento farmacêutico. Começou a dar algumas aulas em supletivos durante as noites, como um extra. Seu primeiro contato com salas de aula e alunos com a mesma idade.
Após algum tempo, saiu das duas áreas para trabalhar na Secretaria da Educação do Estado – SEE, onde foi convidada a participar do Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-Brasileiros que foi responsável por projetos de inclusão de conteúdo sobre cultura africana e outros projetos dentro do currículo escolar. Escolhiam-se livros e até mesmo instruíam professores a como lidar com situações de preconceito dentro da sala de aula.
Nessa mesma época, surgia a TV Escola, parceria da TV Cultura com o Ministério da Educação. Projeto de um canal educacional destinado ao aprendizado que buscar servir como base complementar de apoio para educadores, alunos e pessoas interessadas em aprender. Uma forte característica do canal é utilizar professores como apresentadores. Após uma apresentação do projeto no auditório da SEE, a paulista entrou em contato com a emissora, conseguiu um teste e foi aprovada.
Pouco tempo depois, Rosa foi estudar Radialismo com ênfase em Locução e TV, no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC. Com algum tempo, afastou-se da SEE e começou a atuar na presidência da CARE, uma instituição que atuas nas áreas de sustentabilidade e geração de renda. Com a organização, viajou muito pelo Brasil e também para a África do Sul.
Rosa morou nos EUA por um período após casar-se com um jornalista, no estado de Mississipi. Ao regressar para o Brasil, o casal adotou as filhas gêmeas: Sandra e Renata e essa é a atual constituição de sua família.
Através da indicação de um dos câmeras da TV Escola, conheceu o projeto do Universitário Vestibulares na Bahia, voltado a empresas internacionais e até hoje faz parte do grupo de professores da instituição. Já são 20 anos de citologia e genética, com uma aula divertida e interativa a bioprofessora é referência na matéria para os seus diversos alunos.
LIVROS
Seu lado escritora veio do incentivo de um dos seus professores de mestrado, por vivenciar esse contexto, a coletânea Aprovados! (Rosa Maria T. Andrade; Eduardo Fonseca; Aprovados!; Editora Selo Negro; 228 páginas; preço em média: $40,00) é lançada em 2002. Um estudo precioso sobre a relação entre os afrodescendentes com os cursinhos pré-vestibulares e as universidades. A professora fez questão de que a capa da edição fosse com fotos dos seus próprios alunos.
8 anos depois, em parceria com sua cunhada Heloisa Pires Lima e a ilustradora Denise Nascimento, nossa Rainha de Sabá, apelido de Rosa quando criança, lança o livro: Lendas da África Moderna (Rosa Maria T. Andrade; Heloisa P. Lima; Denise Nascimento, Lendas da África Moderna; Editora Elementar; 72 páginas; preço em média: $40,00), inspiradas em Nelson Mandela, Wangari Maathai, a arte e os griôs do noroeste africano, as histórias são contadas de forma lúdica e cultural, em pouco tempo vira sucesso e chega nas salas de aula de todo o país, proporcionando a ela um reconhecimento como escritora e muitas viagens para divulgação da obra.
São inúmeras realizações importantes e especiais na vida de uma mulher, mas se falarmos de sonho, Rosa ainda almeja a expansão de uma visibilidade midiática, estar em uma rede de televisão maior, ter seu trabalho e esforço nessa área mais reconhecidos e bem vistos. Ela é o exemplo de que a cada dia podemos nos renovar, inovar e seguir uma rota de vida brilhante, mitocondrial e repletas de ATP do bem.
*Perfil produzido para a disciplina de Laboratório de Redação Aplicada
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